O quebra-cabeça das modalidades organizativas
Integrar atividades permanentes, sequências didáticas e projetos de ensino requer planejamento e conhecimento claro dos conteúdos.
Luiza Andrade /Arthur Guimarães - Site revista Nova Escola 01/2009
Você já sabe o que ensinar ao longo do ano com base nas expectativas de aprendizagem de cada disciplina. Falta agora saber como colocar tudo isso em prática no dia-a-dia da sala de aula. A pesquisadora argentina Delia Lerner classificou o trabalho em classe em três grandes blocos
- atividades permanentes, sequências didáticas e projetos didáticos -, que hoje são conhecidos como modalidades organizativas. Como em um jogo de encaixar peças, planejar o uso dos três ao longo do ano exige visão global do processo e capacidade de projetar cenários e encadear situações, pois eles são módulos complementares que podem ser interligados ou usados separadamente, em montagens que devem levar em consideração os objetivos e os conteúdos a trabalhar. "Toda essa rede de atividades tem de estar desenhada antes mesmo de começar o ano letivo. De preferência, numa tabela. O ideal é começar do todo e ir aos poucos, criando as ramificações. Fazer esse tipo de previsão ajuda a guiar os passos, evita a sobreposição de assuntos e clareia o ponto de partida e o de chegada", explica Andrea Guida, coordenadora pedagógica do Centro de Educação e Documentação para Ação Comunitária. Para ela, esse tipo de organização deve ser compartilhado por todos os professores, independentemente de série ou disciplina. "Planejar dessa forma ajuda a pensar o progresso dos alunos e favorece a retomada consciente de conteúdos durante a vida escolar. Se determinada turma leu muitos contos de fadas no 1º ano, vai realizar mais facilmente um projeto de produção de um livro quando chegar ao 2º", exemplifica. "Mas estabelecer esse tipo de rotina não significa criar uma camisa de força. A ideia é programar cada detalhe, com materiais e abordagens pré-analisadas e estudadas, mas saber que imprevistos podem surgir." As definições e especificidades de cada uma das modalidades organizativas são bem claras.
As atividades permanentes devem ser realizadas regularmente (todo dia, uma vez por semana ou a cada 15 dias). Normalmente, não estão ligadas a um projeto e, por isso, têm certa autonomia.
As atividades servem para familiarizar os alunos com determinados conteúdos e construir hábitos. Por exemplo: a leitura diária em voz alta faz com que os estudantes aprendam mais sobre a linguagem e desenvolvam comportamentos leitores. Ao planejar esse tipo de tarefa, é essencial saber o que se quer alcançar, que materiais usar e quanto tempo tudo vai durar. Vale sempre contar para as crianças que a atividade em questão será recorrente - ao longo do semestre ou mesmo do ano todo.
Já a sequência didática é um conjunto de propostas com ordem crescente de dificuldade. Cada passo permite que o próximo seja realizado. Os objetivos são focar conteúdos mais específicos, com começo, meio e fim (por exemplo, a regularidade ortográfica). Em sua organização, é preciso prever esse tempo e como distribuir as sequências em meio às atividades permanentes e aos projetos. É comum confundir essa modalidade com o que é feito no dia-a-dia. A questão é: há continuidade? Se a resposta for não, você está usando uma coleção de atividades com a cara de sequência.
Por fim, temos o projeto didático, modalidade que muitas vezes se confunde com os projetos institucionais (que envolvem a escola toda). Suas principais características são a existência de um produto final e objetivos mais abrangentes. Os erros mais comuns em sua execução são certo descaso pelo processo de aprendizagem, com um excessivo cuidado em relação à chamada culminância.
MODALIDADES ORGANIZATIVAS DO TRABALHO PEDAGÓGICO
ATIVIDADE PERMANENTE: seleção de material, organização do espaço e do tempo pelo professor, objetiva ampliar o repertório do aluno, pode ser ligada a registros escritos.
SEQUÊNCIA DIDÁTICA: não tem pesquisa do aluno, deve partir das linguagens e não de um tema. Prevê total ação do professor na seleção do que fazer, como fazer, sua gradação e tempo e ele controla todas as etapas de forma que elas promovam desafios graduais a medida que acontecem.
PROJETO: intervenção social (o grupo detecta uma situação-problema social/real), abrange diversas áreas curriculares, diferentes linguagens, problematização, autonomia do aluno, produto final ( resposta ao problema inicial).
SISTEMATIZAÇÃO: não tem pesquisa do aluno, é utilizada para o trabalho com determinado conteúdo (fixar ou aprofundar) necessário para o andamento de uma sequência didática, por exemplo.
Fonte:
NERY,Alfredina.
Modalidades organizativas do trabalho pedagógico: uma possibilidade. Ensino fundamental de nove anos : orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade / organização Jeanete Beauchamp, Sandra Denise Pagel, Aricélia Ribeiro do Nascimento. –Brasília : Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007
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